sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A Palavra que eu Inventei



 A Palavra que eu Inventei



Uma vez, inventei uma palavra para descrever essa nuvem negra que você carrega logo acima da sua cabeça.

Não me lembro dela agora, mas sei que era uma mistura de tempestade, guarda-chuva, depressão, café e pizza de chocolate.

Devia ter umas trinta e quatro sílabas.
Não era proparoxítona, nem paroxítona e nem oxítona.
Tinha três acentos (^, ´e ~) e um cê-cedilha.
Era uma pobre palavra triste que não rimava com nada.
Eu que fiz.

Tentei usá-la algumas vezes, a fim de ver se alguém entenderia:
O carteiro se sentiu ofendido e a moça da locadora de vídeo me trouxe um filme cult.

Esse é o problema das palavras: elas têm vida e são livres. Quando querem, se escapam, se infiltram, se somem e não há poeta que as encontre.

Um homem até chegou a criar um viveiro, uma jaula para prendê-las. É o que conhecemos por “dicionário”, mas isso é uma outra história.

Por hora, fiquemos com sua nuvem, que é uma mistura de nós, tal qual também me fugia:
Nostalgia.




Rafael C. Nemer






2 comentários:

  1. E o que dizer para as palavras?
    Que pra cada um tem um sabor. Como aquela fruta mordida vinda de alguma canção? Como aquele café expresso de toda manhã?
    Cada um as descreve conforme o paladar.
    Cada um tem um tom, um som, um jeito de desenhar.
    Essa nuvem na minha cabeça, vêm germinando ideias para a primavera que virá.
    Vou chovendo até me encher de algo e me transbordar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gostei, Tatiane! É um bom jeito de mostrar a necessidade de criar. Obrigado pela contribuição!

      Excluir