segunda-feira, 31 de março de 2014

sexta-feira, 28 de março de 2014

Dia cinza



Dia cinza
Sem cor
Nem cheiro
Desajeitado

Daqueles que te fazem pensar
Que o céu é um papelão pintado
E a vida é um assunto mal resolvido.

Quando é assim,
Sempre sai algo de mim.

Quando é desse jeito,
Sempre nasce algo de meu peito.

Dito e feito.



- Rafael C. Nemer



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quarta-feira, 26 de março de 2014

terça-feira, 25 de março de 2014

Como Mente a Poesia

Quando pequeno de criança, lembro-me que não compreendia o significado de coisas como poesia e filosofia. Desconhecia o que faz um poeta e um filósofo. E não me recordo de ter aprendido com alguém, se não sozinho. Por isso tantas vezes arrisco definir poesia. Aqui vai mais uma tentativa:

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Como mente a poesia!

Embeleza o que não acho bonito;
Maltrata o que é projeto de infinito.

Veja:
Poesia diz que parece dançar
Um peixe sendo frito na panela
E diz que é um bocado triste
Um pouquinho de chuva
Debruçar na janela.

Poesia é um jeito heroico de narrar um fato:
Chamar “pipoca” de “milho estourado”.


Rafael C. Nemer


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terça-feira, 18 de março de 2014

A meu ver


Cachoeira

Cachoeira

Na beira de uma cachoeira,
Vi um limiar onde o riozinho
Desiste de correr e se joga
No mundo.

Ele cai, que cai bonito.

Despenca num monte de chão e pedra
E sai um pouco irritado.
Falhou em acabar com a correria.
Move-se, agora, conformado.

Ô, riozinho...

Queria me despencar
Que nem você
E sair transformado

Pular menino
E levantar homem.

Não um tipo conformado,
Mas vivido,
Nutrido e lavado

Das águas que me passaram.


- Rafael C. Nemer


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quarta-feira, 12 de março de 2014

O Homem Solitário



O Homem Solitário

Eu vejo o homem solitário vagando por ruas e avenidas
Cercado de vento e desatino
Eu vejo o homem solitário queixando-se da saudade
Roendo as unhas numa fila invisível

Eu vejo o homem solitário que gosta de passar o tempo flutuando
Em qualquer coisa que não seja virtude
E o homem solitário também gosta, sem dúvida,
De exibir pra si mesmo toda sua solidão

Eu vejo o homem solitário cantar melodias que não existem
E conseguir desafinar
Um assovio torto que despenca do nonagésimo andar
Sabe-se lá como chegar até ali

Eu vejo o homem solitário com seu guarda-chuva
Chutar uma poça de uísque pra dentro do peito
Cambaleando que só, urge, o homem solitário,
De qualquer amparo que não tenha pulsação

Eu vejo o homem solitário se dar melhor com cimento
Que com gente e se entender melhor
Com passarinhos do que
Com poetas e filósofos

O homem solitário ri para a árvore e ela joga uma folha
Eu o vejo decifrar alguma coisa nas nuvens
E olhar para os lados para ver se alguém está olhando
Melhor: para garantir que ninguém esteja

Eu vejo o homem solitário também
Através de seus olhos solitários
Eu o vejo num reflexo de vidro de padaria
Ele me dá boa noite no espelho

O homem solitário não quer que o presente poema rime
Ele dispensa qualquer trabalho com definições de si
Ele quer, mesmo, é o fim do tal poema
Ele acha que fazer poesia é se revelar além da conta

Eu vejo o homem solitário caminhando mais uma vez
E se despedindo
Lá de cima do seu mundo.


- Rafael C. Nemer


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quinta-feira, 6 de março de 2014

Pierrô Acertou: Errei



Pierrô Acertou: Errei

Vem me ensinar uma marchinha
E acabar com o silêncio do meu carnaval.

Vem, mas vem sozinha,
Sem desfile
E sem máscara.

Vem vestir aquela fantasia de nós.

Ajude-me a colocar minha roupa de rei;
Está no armário, perto do uniforme
Do trabalho.

Você se vestia de colombina.
Combina.
Eu nunca quis ser o rei,
Mas era a única que tinha.

Estranho imaginar
Um rei e uma colombina,
Separados de muitos carnavais,
Cada um em seu sofá
Fantasiando.

Pior que minha coroa já nem sei onde está.


Rafael C. Nemer


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quarta-feira, 5 de março de 2014

A Problemática Fraternal do Cimento



A Problemática Fraternal do Cimento

Cimento é muralha feita por homem
Pra natureza não entrar.

A chuva cai no asfalto e sente dor.
Fica perdida e quer voltar,
Transformando-se em vapor.

O ovo que despenca de um ninho,
No caminho, já sente o acabar:
Se caísse na terra, talvez pudesse voar.

O vento sorri e tromba com a parede.
Deixa cair todos os perfumes que havia juntado.

A lagartixa inocente perdeu o rabo
Num baque de vassoura assustado.

O homem faz cimento e finge que é bonito
Delimitar seu quadrado de vida.
Divida, homem. É sua dívida de vida.

E fica uma pequena reflexão sobre um cachorro atropelado:
Será que era pra ser asfalto?
Quem deveria estar lá:
A calma do bicho
Ou a pressa do carro?


Rafael C. Nemer


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