O Homem Solitário
Eu vejo o
homem solitário vagando por ruas e avenidas
Cercado de
vento e desatino
Eu vejo o
homem solitário queixando-se da saudade
Roendo as
unhas numa fila invisível
Eu vejo o
homem solitário que gosta de passar o tempo flutuando
Em qualquer
coisa que não seja virtude
E o homem
solitário também gosta, sem dúvida,
De exibir
pra si mesmo toda sua solidão
Eu vejo o
homem solitário cantar melodias que não existem
E conseguir
desafinar
Um assovio
torto que despenca do nonagésimo andar
Sabe-se lá
como chegar até ali
Eu vejo o
homem solitário com seu guarda-chuva
Chutar uma
poça de uísque pra dentro do peito
Cambaleando
que só, urge, o homem solitário,
De qualquer
amparo que não tenha pulsação
Eu vejo o
homem solitário se dar melhor com cimento
Que com
gente e se entender melhor
Com
passarinhos do que
Com poetas e
filósofos
O homem
solitário ri para a árvore e ela joga uma folha
Eu o vejo
decifrar alguma coisa nas nuvens
E olhar para
os lados para ver se alguém está olhando
Melhor: para
garantir que ninguém esteja
Eu vejo o
homem solitário também
Através de
seus olhos solitários
Eu o vejo
num reflexo de vidro de padaria
Ele me dá
boa noite no espelho
O homem
solitário não quer que o presente poema rime
Ele dispensa
qualquer trabalho com definições de si
Ele quer,
mesmo, é o fim do tal poema
Ele acha que
fazer poesia é se revelar além da conta
Eu vejo o
homem solitário caminhando mais uma vez
E se
despedindo
Lá de cima
do seu mundo.
- Rafael C. Nemer
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